quinta-feira, 18 de outubro de 2007

UMA BIOGRAFIA

Os versos anteriores, naturalmente, remetem aos seguintes:


"Ora, até eu mesmo muitas vezes penso
como conheço pouco minha vida real; apenas algumas
sugestões, raras pistas
vagas e difusas, e
desvios que persigo, para meu próprio uso
a fim de localizá-los aqui."
Estes versos do poeta americano WALT WHITMAN, autor de FOLHAS DA RELVA que, segundo nos informa PAULO LEMINSKI, foi o primeiro BEATNIK e também o primeiro a fazer versos livres, dão início a um livro MONUMENTAL. Estou falando de KEROUAC, UMA BIOGRAFIA, de autoria de ANN CHARTERS.
Escrita em 1973, enquanto ele ainda estava vivo, esta biografia de JACK KEROUAC é a mais completa visão sobre a vida deste andarilho, deste vagabundo errante e genial. Um livro que pode ser lido como um romance, uma aventura, cuja revelação maior é a profunda solidão de um homem sensível e atormentado.
O boom da literatura beat aqui no Brasil aconteceu lá pela metade dos anos 80 do século passado. Como este livro foi lançado algum tempo depois, já sob o desprezo dos nossos literatos, sua repercussão não foi impactante, chegando a ser quase nula. Creio que não deve ter vendido muito, mas acho que com um pouco de paciência pode ser encontrado em algum sebo deste nosso imenso país. Vale a pena o investimento e, se você não leu nenhum livro de KEROUAC, a oferta até hoje é intensa . Para mim, que tenho alguns deles, o melhor é ON THE ROAD (PÉ NA ESTRADA), agora em nova edição atualizada, na tradução de EDUARDO BUENO, o Peninha.
Publico, a seguir, um pequeno trecho do capítulo 6 de KEROUAC, UMA BIOGRAFIA:
"Kerouac começou sua primeira viagem de costa a costa colocando uma ficha de metrô na fenda no I.R.T. da Seventh Avenue e seguindo até o fim da linha, na 242nd street, e pegando bondes ate os limites da cidade, em Yonkers, na margem leste do Hudson. Então, começou a pedir carona. Precisou pegar cinco caronas diferentes para cobrir os oitenta quilômetros até a Ponte de Bear Mountain, onde vai dar a Estrada 6, vinda da Nova Inglaterra - mas seus problemas aestavam apenas no início. Começou a chover forte enquanto ele estava debaixo de uma árvore, no cruzamento de trânsito, carros na estrada. Ele estava aborrecido porque horas já haviam decorrido naquele seu primeiro dia, e ele não avançara em direção ao oeste mais do que quando partira de Nova York, pela manhã.
Finalmente desistiu da Estrada 6 e aceitou uma carona para Newsburgh, onde podia pegar um ônibus de volta para Nova York. A única coisa inteligente a fazer era atravessar o Túnel Holland e dirigir-se para Pittsburgh, na rota dos caminhoneiros: "... não há trânsito na 6." Com soturna determinação, Jack tomou o ônibus de volta para a cidade Nova York com um bando de professoras barulhentas que retornavam de um fim-de-semana nas montanhas.
Estava tão desanimando que foi diretamente para o Terminal dos Greyhound, numa transversal de Times Square onde Cassady pegara seu ônibus para Denver. Jack tinha apenas cinqüenta dólares e não queria gastar tudo numa passagem para São Franscisco, mas fez um acordo de suas finanças com seus princípios. Comprou passagem para Chicago, simplesmente para sair de Nova York. A oeste de chicago, começou a pedir carona.
Tinha aprendido a não lutar com as complexidades do trânsito de uma grande cidade, de modo que tomou um ônibus para Joliet. Illinois, caminhou até as imediações da cidade e levantou o polegar. Mais de metade do seu dinheiro se fora, e para chegar ao Oeste, teria de pegar carona. Por razões sentimentais, colocara-se outra vez na Estrada 6. Em Illinois os caminhões rugiam pela estrada e ele não teve nenhum problema para parar um deles, em sua primeira carona. Vinte e quatro horas e seis caronas depois Kerouac estava em Des Moines, Iowa. Não tinha avançado tanto assim, mas cruzara o rio Mississipi e semtiu que, afinal, chegara a alguma parte."
Não foi fácil, mas ele conseguiu e escreveu sua obra baseado nas aventuras por que passou nas estradas do seu país. Criador da prosa espontânea, Jack Kerouac queria escrever da mesma maneira que Charlie Parker, o criador do Bebop, inventava um solo de sax. Essa foi a sua verdadeira e definitiva viagem. Como todos os músicos de JAZZ, essa viagem foi para dentro de si mesmo e, tenho certeza, ele chegou lá.
Até amanhã.

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